16 de ago. de 2015

Abordagem Gestáltica #2: Homeostase e Holismo

Homeostase é um conceito comum na ciência. Um organismo em homeostase é um organismo em equilíbrio, ou seja um organismo que satisfaz suas necessidades.

Perls (2011) vai dizer que um organismo que não consegue atingir a homeostase está doente e nos dá o seguinte exemplo (p. 21):

“Para o organismo gozar de boa saúde, o volume de água do sangue também tem que ser mantido num certo nível. Quando cai abaixo do nível, a transpiração, a salivação e a excreção de urina são todas diminuídas, e os tecidos do organismo passam parte de sua água para a corrente sanguínea. Assim, o corpo zela para que ela conserve água durante um período de emergência. Este é o lado fisiológico do processo. Porém, quando a taxa de água do sangue cai demasiadamente, o indivíduo sente sede. [...] Toma um gole d’água. [...] Desta forma, poderíamos chamar o processo homeostático de processo de auto-regulação.” 

Embora este exemplo esteja relacionado a manutenção da vida, em seu nível fisiológico, há outras necessidades e a homeostase também é necessária no nível psicológico. 

Imaginemos uma pessoa deitada com muito sono, de repente ela escuta barulhos de sirenes e correria na rua e lembra que deixou a janela aberta. Imediatamente ela levanta para fechá-la. 

“Formulando este princípio em termos de Psicologia da Gestalt, podemos dizer que a necessidade dominante do organismo, em qualquer momento, se torna a figura de primeiro plano e as outras necessidades recuam, pelo menos temporariamente, para o segundo plano.” (PERLS, 2011, p. 23).

No exemplo acima, a necessidade mais vital para o indivíduo foi levantar e fechar a janela. Quando ele consegue satisfazer sua necessidade, dizemos que ele fechou a Gestalt. Para que isto ocorra ele “[...] deve ser capaz de manipular a si próprio e ao seu meio, pois mesmo as necessidades puramente fisiológicas, só podem ser satisfeitas mediante a interação do organismo com o meio.” (PERLS, 2011, p. 24).

Holismo

Como podemos perceber, organismo é a unidade referencial adotada na gestalt-terapia. Isto se dá, pois a Teoria Organísmica de Kurt Goldstein é um dos referenciais teóricos da abordagem. A Gestalt-terapia encerra a cisão corpo/mente através desta noção de que somos um organismo unificado.

Por longos tempos acreditamos que o estudo do pensar e do agir poderiam se dar separadamente devido sua aparente independência.

A ciência conseguiu compreender ao longo do tempo as formas de funcionamento de diversos órgãos, embora seja limitado o conhecimento sobre a capacidade do ser humano formar e aprender símbolos, abstrações, etc. Quando isto ocorre, ele está agindo em imagem, fazendo mentalmente o que poderia fazer fisicamente. Um estudante pensando sobre uma teoria científica, pode também explicá-la para outra pessoa ou escrever sobre. As últimas duas ações são ações físicas. (PERLS, 2011).

O pensamento não é a única atividade mental que desempenhamos. Podemos falar também da atenção. Uma pessoa atenta a algum objeto certamente estará com o corpo voltado a este objeto.

Até em um nível baixo de atividade mental como o sono, há atividade muscular.

Podemos agora, focar na atividade mental de pensar. Perls (2011) engloba no pensar outras atividades como: sonhar, imaginar, teorizar, antecipar e chama tudo isto de atividade de fantasia. Este conceito de fantasia não está relacionado àquilo que é irreal ou misterioso, e sim à uma atividade reduzida feita através de símbolos. Como os símbolos são derivações da realidade, a atividade que envolve o uso de símbolos – fantasiar – também.

De um modo ou outro, a atividade fantástica está sempre ligada a realidade. Se tivermos muitas tarefas a desempenhar no dia, primeiro fantasiamos como realizá-las, qual fazermos primeiro, etc. A atividade mental nos faz economizar tempo, energia e trabalho, embora pensar obsessivamente pode gastar muita energia e levar a neurastenia.

Podemos concluir então que o que diferencia os níveis de atividade é apenas a quantidade de energia gasta, pois são feitos da mesma matéria. 

A Gestalt-terapia, portanto, é uma terapia holística. Perls (2011:30) diz que,

“Em psicoterapia este conceito nos dá um instrumento para lidar com o homem global. Agora podemos ver como suas ações mentais e físicas estão entrelaçadas. Podemos observar o homem de modo mais agudo e usar nossas observações mais significativamente. Pois como agora é mais ampla a superfície que podemos observar, se as atividades física e mental são da mesma ordem, podemos observar a ambas como manifestação da mesma coisa: o ser do homem. Nem o paciente nem o terapeuta estão limitados pelo que o paciente diz e pensa: ambos podem agora levar em consideração o que ele faz.”

E conclui:

“Através da própria experiência nos três níveis de imaginar, representar e fazer, se tornará um entendedor de si mesmo. A psicoterapia deixa de ser uma escavação do passado, em termos de repressões, conflitos edipianos e cenas primárias, para se tornar uma experiência de viver no presente. Nesta situação de vida, o paciente aprende por si como integrar seus pensamentos, sentimentos e ações, não só quando está no consultório, mas no curso da vida cotidiana.”


Referências

LIMA, Patrícia Valle de Albuquerque. Teoria Organísmica. Disponível em: https://www.igt.psc.br/Artigos/teoria_organismica.htm. Acesso em: 16 ago. 2015.

PERLS, F. A abordagem gestáltica e a testemunha ocular da terapia. Rio de Janeiro: LTC, 2011.



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