22 de mai. de 2019

Como fazer teologia da libertação [Resenha]

BOFF, Leonardo; BOFF, Clodovis. Como fazer teologia da libertação. 10. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. 140 p.

AUTORES
Leonardo Boff nasceu em 1938, doutorou-se em teologia pela Universidade de Munique. Foi professor de Teologia Sistemática e Ecumênica no Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis e professor de Ética, Filosofia da religião e Ecologia filosófica na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Clodovis Boff nasceu em 1944. É frade da Ordem dos Servos de Maria. Doutorou-se em Teologia pela Universidade de Lovaina. Atualmente é professor na Pontifícia Universidade Católica do Paraná.


RESUMO DA OBRA
Este livro versa sobre o método da teologia da libertação e sobre a construção de uma reflexão teológica libertadora. Conforme se lê em sua apresentação, faltava dentro da vasta produção teológica sobre a Teologia da Libertação um livro com uma visão global e acessível sobre este modo de fazer teologia. O livro é composto por sete capítulos. O capítulo inicial questiona sobre como ser cristãos em um mundo de miseráveis. O segundo capítulo aborda os três níveis da Teologia da Libertação: o profissional, o pastoral e o popular. O capítulo três é o capítulo central do livro e expõe o método da Teologia da Libertação e suas três mediações: mediação socioanalítica, mediação hermenêutica e mediação prática. O capítulo quatro aponta os principais temas-chave da Teologia da Libertação. O capítulo cinco faz um apanhado histórico da Teologia da Libertação e o capítulo seis fala da Teologia da Libertação no panorama mundial na época em que o livro foi escrito. Por fim, o capítulo sete fala sobre a nova humanidade que surge a partir da libertação. 

CONCLUSÃO DO RESENHISTA
A Teologia da Libertação é uma teologia que surge do confronto da fé cristã com a situação de opressão, isto é, a injustiça feita aos pobres. O conceito de pobre para a Teologia da Libertação se refere a uma coletividade, que extrapola aquele pobre individual que pede esmola, e engloba mais que o proletariado estudado por Marx: "são os operários explorados dentro do sistema capitalista; são os subempregados, os marginalizados do sistema produtivo [...] são os peões e posseiros do campo, boias-frias como mão de obra sazonal” (p. 14-15), além dos negros, índios e mulheres. Para se fazer Teologia da Libertação é necessário superar a epistemologia racionalista e se envolver no processo concreto e histórico de libertação dos oprimidos e por isto não se limita a ser uma teologia acadêmica, mas é também pastoral e popular. A Teologia da Libertação se processa em três momentos: ver, julgar e agir. No primeiro momento se faz a Mediação Socioanalítica, que consiste em, antes de perguntar o significado da opressão pra Deus, questionar as causas da opressão, utilizando a teoria marxista de modo instrumental. No segundo momento, tendo o teólogo compreendido a situação real do oprimido, ele se pergunta: o que a Palavra de Deus diz sobre isto? (Mediação Hermenêutica). Por fim, na Mediação Prática é o momento de agir. Dentre as várias motivações que levam a Teologia da Libertação a fazer a opção pelos pobres, destaco a Motivação Teo-lógica, que parte da ideia de que o Deus da Bíblia é defensor da vida e o culto que o agrada deve vir acompanhado da prática de Justiça e conversão ao necessitado e oprimido; e a Motivação Cristológica que afirma a evidente opção que Jesus Cristo fez pessoalmente pelos pobres e oprimidos, considerando os primeiros destinatários de sua mensagem. Todavia, é necessário que o teólogo da libertação seja cuidadoso com algumas tentações: Descuido das raízes místicas (oração, meditação, etc...), que é de onde surge o compromisso com a libertação e supervalorização da ação política; subordinação do discurso da fé ao discurso da sociedade, desconsiderando o que é específico do campo religioso; foco excessivo nas rupturas mais que nas continuidades com a Tradição da Igreja, etc. A Teologia da Libertação é um chamado definitivo a dimensão libertadora da fé. Quando toda a Teologia atender a esse chamado, será desnecessária a terminologia “Teologia da Libertação”, pois toda a Teologia será de libertação.

CRÍTICA DO RESENHISTA 
A obra alcança o objetivo apresentado pelos autores que é fornecer uma visão geral e acessível do método da Teologia da Libertação e vai além da questão do método, pois aponta as motivações da Teologia da Libertação e a situa historicamente. A obra foi publicada originalmente em meados da década de 80 e é possível perceber que desde o começo a Teologia da Libertação já convivia com algumas críticas que os autores respondem de forma satisfatória ao longo do livro. Destaco especialmente o subtítulo O caso de um marxismo mal digerido, no Capitulo III, em que os autores explicam o uso da teoria marxista na Teologia da Libertação; e o subtítulo Tentações da Teologia da Libertação, no Capítulo IV. É uma leitura fluida, com poucas citações e não demanda do leitor conhecimentos prévios do assunto para seu entendimento, sendo uma boa obra de introdução à Teologia da Libertação e ao pensamento crítico proposto por esta Teologia. 

INDICAÇÕES DO RESENHISTA 
Por fornecer uma visão geral do tema com linguagem acessível, o livro é indicado aos Teólogos e estudantes de Teologia que desejam um guia geral sobre a Teologia da Libertação, com seu método e principais temas-chave, e aos líderes cristãos que estejam em busca de uma Teologia que seja relevante em nossa sociedade atual e comprometida com a causa dos oprimidos a partir dos valores do Reino de Deus.

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