O principal objetivo da autora é
oferecer uma resposta para a queixa escolar, analisando como acontece a aprendizagem
humana e a não aprendizagem. Para ela, a não aprendizagem na escola é uma das causas
do fracasso escolar, mas amplia essa questão problematizando-a.
Ela propõe a análise do fracasso escolar
a partir de três perspectivas. A primeira perspectiva é a da sociedade. Nesse
aspecto devemos levar em consideração a cultura, as condições político-sociais
e econômicas, a estrutura social, as ideologias dominantes e as relações
explícitas ou implícitas desses aspectos com a educação escolar. Estas
condições também influência nos aspectos físicos dos alunos de baixa renda
pelas consequências nos períodos pré-natal, perinatal, pós-natal, assim como a
exposição mais fácil a doenças letais, acidentes, subnutrição e suas consequências.
Por estas e outras dificuldades os alunos de baixa renda são frequentemente
considerados como tendo graves problemas de aprendizagem, quando na realidade,
faltam oportunidades de crescimento cultural, cognitivo e linguístico que
facilitaria o desenvolvimento da leitura e da escrita.
A segunda perspectiva é a da escola. Esta
perspectiva não deve ser isolada da anterior, pois segundo a autora "A
escola não é isolada do sistema socioeconômico, mas, pelo contrário, é um
reflexo dele (p. 17)." A má qualidade do ensino relacionada a falta de
apoio material e pedagógico aos professores, que são desqualificados pela
sociedade, provoca um desestímulo na busca do conhecimento. Todo esse contexto
faz com que não haja investimento dos alunos, do ponto de vista emocional, na
aprendizagem escolar. Para a autora esse movimento seria uma condição interna
básica. Em muitos casos de fracasso escolar está a má condução do processo de
ensino. Na p. 20 a autora diz que:
Outras
falhas escolares estão na qualidade e na dosagem da quantidade de informações a
serem transmitidas e na "cobrança" ou avaliação da aprendizagem. Tais
situações, se mal conduzidas, são geradoras de uma ansiedade insuportável para
o aluno, chegando à desorganização de sua conduta por não agüentar o excesso de
ansiedade.
Segundo Pichon-Riviere (1982), algumas
ansiedades resultam em dificuldades de aprendizagem. O sujeito experimenta o
"medo à perda" que é quando o ele teme perder o equilíbrio emocional
já obtido com domínio dos conhecimentos anteriores, já integrados; e o
"medo ao ataque" que acontece quando o sujeito não sente que está
devidamente instrumentado para lidar com a situação que está vivendo. Para
Pichon-Riviere, os momentos do processo de aprendizagem são o momento
confusional, pelo momento de discriminação, em que o sujeito procura relacionar
o conhecimento novo com os já adquiridos e pelo momento de integração do conhecimento
novo a tudo que o sujeito já sabe, a tudo que realmente já aprendeu.
A terceira perspectiva é a do aluno,
suas condições internas de aprendizagem, intrasubjetividade. Para a autora,
apenas 10% dos casos encaminhados a ela para diagnóstico psicopedagógico tinham
sua causalidade no aluno, oriunda de sua história pessoal e familiar.
É necessário levar em consideração
alguns aspectos ligados às três perspectivas de abordagem do fracasso escolar.
A compreensão desses aspectos ajudará a construir uma visão gestáltica da
pluricausalidade do fracasso escolar.
·
Aspectos
orgânicos: relacionados à construção biofisiológica do sujeito. Alterações nos
órgãos sensoriais podem impedir ou dificultar a aprendizagem. É importante
ressaltar que dar uma educação diferenciada às crianças portadoras de
alterações orgânicas pode levar à formação de problemas emocionais em diversos
níveis, gerando dificuldades na aprendizagem escolar.
·
Aspectos
cognitivos: ligados ao desenvolvimento e funcionamento de estruturas
cognoscitivas. Inclui aspectos ligados à memória, atenção, antecipação, etc.
·
Aspectos
emocionais: ligados ao desenvolvimento afetivo e sua relação com a construção
do conhecimento e a expressão deste através da produção escolar. Remete aos
aspectos inconscientes envolvidos no ato de aprender.
·
Aspectos
sociais: ligados ao contexto em que estão inseridas a família e a escola.
·
Aspectos pedagógicos:
metodologia do ensino, avaliação, quantidade de informações, estruturação de
turmas, etc. Estes aspectos contribuem muitas vezes para o aparecimento de uma
"formação reativa" aos objetos da aprendizagem escolar e confunde-se
na maioria das vezes, com dificuldades de origem familiar ou pessoal do aluno.
Para realizarmos o diagnóstico
psicopedagógico, é necessário estarmos atentos aos seguintes eixos de análise:
·
Eixo horizontal:
exploração do campo presente, das causas que coexistem temporalmente com o
sintoma, a grandeza do desvio existente no aqui e agora. Para isto a autora
utiliza, além de entrevistas com o paciente, instrumentos como: Entrevista
Familiar Exploratória Situacional - EFES (Weiss, 1987), entrevistas com toda a
família, incluindo o paciente e os irmãos (tipo DIFAJ de A. Fernandez, 1990),
Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem - EOCA (Visca, 1981), Sessões
Lúdicas Centradas na Aprendizagem (Weiss, 1987), provas e testes diversos,
Diagnóstico Operatório (Piaget), entrevistas com a equipe da escola e com
outros profissionais, análise da produção do sujeito fora do consultório
(material escolar, desenhos, construções, textos produzidos etc).
·
Eixo vertical:
busca histórica e contextualizada da construção geral do indivíduo. Para isto a
autora utiliza: anamnese com a família, com a escola e com outros
profissionais, análise de documentos (laudos, relatórios escolares, registros,
álbuns fotográficos).
De acordo com a autora (p. 34):
O
objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico é identificar os desvios e os
obstáculos básicos no Modelo de Aprendizagem do sujeito que, o impedem de
crescer na aprendizagem dentro do esperado pelo meio social. Assim, para
conhecer esse Modelo de Aprendizagem, conta-se, nos dois eixos descritos, com
dados oriundos das observações da escola, da família e obtidos diretamente pelo
terapeuta e por outros profissionais. Entendo como Modelo de Aprendizagem o
conjunto dinâmico que estrutura os conhecimentos que o sujeito já possui, os
estilos usados nessa aprendizagem, o ritmo e áreas de expressão da conduta, a
mobilidade e o funcionamento cognitivos, as modalidades de aprendizagem
assimilativa e acomodativa e suas de distorções [...], os hábitos adquiridos,
as motivações presentes, as ansiedades, defesas e conflitos em relação ao
aprender, as relações vinculares com o conhecimento em geral e com os objetos
de conhecimento escolar, em particular, e o significado da aprendizagem escolar
para o sujeito, sua família e a escola.
O
diagnóstico psicopedagógico é composto por etapas e técnicas. Maria Lúcia Weiss
propõe a seguinte sequência diagnostica:
1.
Entrevista
Familiar Exploratória Situacional - EFES;
2.
Entrevista de
Anamnese;
3.
Sessões Lúdicas
Centradas na Aprendizagem - para crianças;
4.
Provas e testes
(se necessário);
5.
Síntese
diagnostica e Prognóstico;
6.
Entrevista de
Devolução e Encaminhamento.
Esta sequencia pode ser modificada de
acordo com as necessidades de cada caso. As modificações mais comuns de
acontecer são: duas anamneses, em caso de pais separados; adolescentes que
desejam o primeiro contato sozinhos; anamnese inicial sempre que há dúvidas em
relação a diagnósticos anteriores, ou o paciente esteve ou está com outros
profissionais.
1. Entrevista
Familiar Exploratória Situacional - EFES
Essa entrevista objetiva que a queixa
seja explicitada de forma mais profunda. Tem duração de cinquenta minutos e é
realizada com os pais e com a criança/adolescente. Tem como objetivos
compreender a queixa nas dimensões familiar e escolar, as relações e
expectativas acerca da aprendizagem escolar, a expectativa em relação à atuação
do terapeuta, a aceitação e o engajamento do paciente e seus pais no processo
diagnóstico, a realização do contrato e do enquadramento e o esclarecimento do
que é um diagnóstico psicopedagógico.
Em linhas gerais observa-se: o diálogo,
o respeito à opinião do outro, se os pais permitem as interrupções criança ou
adolescente, deixando-o discordar, acrescentar ou modificar fatos por eles
relatados, quem domina o diálogo, as relações familiares, se há fantasias de
saúde ou de doença que estejam misturadas com a queixa, nível de ansiedade,
conhecimento que o paciente tem do motivo do diagnóstico e como lhe foi
explicada a vinda ao consultório, significado do sintoma para a família, etc.
A autora fala a importância do terapeuta
pedir a opinião de todos durante esse processo. Sobre o atendimento com
adolescentes, ela explica que:
Começo
a entrevista ouvindo sempre em primeiro lugar o adolescente: a razão da vinda
ao consultório e a queixa da escola, sua análise do fato, suas expectativas. No
momento seguinte, ele pode ouvir a opinião dos pais e contestá-la caso
discorde. A presença do terapeuta possibilita ao adolescente ser mais autônomo
nesse diálogo (p. 53).
Por fim enfatiza a importância do
registro fiel dessa entrevista.
Outra forma de primeira sessão
diagnostica é proposta por Jorge Visca (1987), através da Entrevista Operativa
Centrada na Aprendizagem - EOCA. Nessa técnica vários materiais são utilizados
de acordo com a idade e a escolaridade do paciente. Frente aos materiais faz as
possíveis propostas para a criança/adolescente: "Gostaria de que você me
mostrasse o que sabe fazer, o que lhe ensinaram e o que você aprendeu",
"Esse material é para que você o use como quiser", etc.
Durante o processo, é necessário
observar a temática das atividades; a dinâmica, que é expressa através da
postura corporal, gestos, tom de voz, modo de sentar, de manipular os objetos
etc; e o produto feito pelo paciente, que será a escrita, o desenho, as contas,
a leitura etc, permitindo assim uma primeira avaliação do nível pedagógico. A
partir da análise desses três aspectos, levanta as hipóteses para continuidade
do processo.
Alicia Fernández (1990) propõe o
Diagnóstico Interdisciplinar Familiar de Aprendizagem em uma só Jornada -
DIFAJ, em que a primeira sessão é feita com toda a família reunida, inclusive
os irmãos.
2. Entrevista de
Anamnese
Weiss destaca a importância da anamnese
dizendo que ela possibilita a integração das dimensões de passado, presente e
futuro do paciente. Através desse procedimento é possível perceber os
preconceitos, normas, expectativas e afetos depositados sobre o paciente. Em
alguns casos, apenas uma sessão não é suficiente.
Nessa etapa são colhidas informações
significativas da história do paciente com os pais, desde o momento da
concepção. É importante que se faça um relato das aquisições, progressos e
atrasos do paciente, estabeleça comparações com os irmãos de modo a ficar claro
como estava a família no momento, inclusive nas dimensões emocionais e
materiais.
Com a anamnese estuda-se:
a)
A história das
primeiras aprendizagens realizadas com a mãe ou sua substituta e todos os
momentos importantes de aprendizagens não escolares ou informais;
b)
Evolução geral:
como se processou o seu desenvolvimento, controles, aquisição de hábitos,
interiorização de normas, aquisição da fala, a alimentação, o sono, a
sexualidade etc.
c)
História
clínica: crises de bronquite, alergia, asma ou ainda as viroses próprias da infância, e o ambiente familiar
nesses momentos. Cirurgias, internações, doenças diversas e suas conseqüências,
tratamentos realizados. É importante pesquisar traumatismos, doenças e
deficiências ligadas à atividade nervosa superior; verificar se há consciência
da família em relação à existência ou
não de seqüelas.
d)
História da
família nuclear: acontecimentos relevantes dos pais e irmãos antes, durante e
depois do nascimento do paciente; as famílias provenientes dos novos casamentos
dos pais e a contextualização dessa história dentro de uma perspectiva
socioeconômica e cultural.
e)
História da
família ampliada: influências passadas e presentes das famílias materna e
paterna sobre os pais e o paciente.
f)
História
escolar: ver como se deu a entrada e os aspectos positivos e negativos de sua
passagem pelas instituições (creches, pré-escolas, escolas regulares, cursos de
Inglês, aulas de bale, escolinha de futebol, etc.).
De acordo com Weiss,
[...]
a entrevista deve transcorrer de forma que o relato espontâneo dos
pais já seja em si um dado: o que
recordaram para falar, qual a seqüência e a importância que dão aos diferentes
fatos, o que omitem, quais fatos são esquecidos etc. As perguntas do terapeuta
devem ser feitas no sentido de complementação ou aprofundamento. (p. 68).
3. Sessões Lúdicas
Centradas na Aprendizagem
É desejável que no trabalho com crianças
haja um espaço e tempo para a criança brincar e assim melhor se comunicar. A
Sessão Lúdica Centrada na Aprendizagem desenvolvida pela autora é uma
integração do EOCA e a Hora do Jogo.
Para essa atividade é preciso fazer um
enquadramento especifico com a criança sobre o uso da sala, o uso do tempo, o
uso do material disponível, limites para segurança, conservação do material e
da sala, qual o papel do terapeuta.
O material a ser utilizado em atividades
lúdicas dependerá do objetivo específico da sessão, do tempo disponível e da
idade da criança. Sugestões:
·
Folhas de papel
(pautadas, lisas, brancas e coloridas), lápis, apontador, régua, lápis de cor,
canetinhas, cola, tesoura, revistinhas, livros;
·
Material para
carpintaria e construções: madeiras, pregos, tachinhas, arames, ferramentas
etc;
·
Material de
sucata (embalagens vazias, caixinhas, carreteis, rolhas, retalhos, fios etc);
·
Blocos de
madeira ou plástico, pinos de encaixe;
·
Tintas diversas,
massa plástica, cola plástica colorida;
·
Fantoches,
miniaturas, animais, flores, bonecos, pires,
xícaras;
·
Jogos.
A apresentação do material pode ser em
uma caixa, fora da caixa ou misto.
A atividade lúdica necessita de uma
explicação inicial, deixando a criança à vontade: "Você pode usar esse
material para brincar como quiser. Um pouco antes de acabar o tempo eu aviso a
você", "Hoje você poderá brincar durante uma parte do nosso tempo,
depois eu vou pedir a você para fazer algumas coisas..."
De acordo com Weiss (p. 79):
Por
ser o jogo inerente ao homem, e por revelar sua personalidade integral de forma
espontânea, é que se pode obter dados específicos e diferenciados em relação ao
Modelo de Aprendizagem do paciente. Assim, aspectos do conhecimento que já
possui, do funcionamento cognitivo e das relações vinculares e significações
existentes no aprender, o caminho usado para aprender ou não-aprender, o que
pode revelar, o que precisa esconder e como o faz podem ser claramente
observados através do jogo.
Devemos observar alguns pontos:
a)
A escolha do
material e da brincadeira/atividade: Atividade e material que repetem a
situação escolar, sem criatividade; seleção de material figurativo; materiais
que permitam criação (tintas, massa plástica, pinos e blocos); materiais que
permitam transformar e imaginar novas coisas (sucata).
b)
O modo de
brincar: se usa apenas o material mais próximo ou se explora todo o material e
depois se fixa em alguma coisa; se escolhe materiais planejando uma
brincadeira; se faz estimativas, medidas e cálculos; se estrutura uma
brincadeira com coerência, começo, meio e fim ou se coloca aleatoriamente os
objetos sem uma antecipação e posteriormente atribui ou não um significado; se
tem flexibilidade no uso dos objetos modificando-o conforme a necessidade; se
classifica os objetos; se mantém uma brincadeira estereotipada e perseverante;
se faz brincadeiras criativas; se começa uma atividade e não conclui; se permanece
concentrada durante a brincadeira; se mantém continuidade na brincadeira de uma
sessão para a outra; se faz na brincadeira mais ações de desmanchar, separar,
dividir e cortar ou de reunir, construir, colar e juntar; o modo como usa o
corpo e etc.
c)
A relação com o
terapeuta: se brinca sozinha, concentrado e ignorando o terapeuta; se brinca
sozinha, mas olhando constantemente para o terapeuta; se depende do terapeuta
para brincar, pedindo sempre sua ajuda; se pede eventualmente a ajuda do
terapeuta, quando esta parece necessária; se só escolhe brincadeiras que
necessitam da participação do terapeuta como parceiro.
4. Provas e
testes
A investigação do nível pedagógico pode
ser feita de diferentes maneiras. Podemos usar provas pedagógicas clássicas que
consistem no uso de textos de leitura, série de problemas, etc. com dificuldade
crescente, que posicionará o sujeito dentro de diferentes níveis de uma escala.
Por ser uma repetição de provas de sala de aula, a autora evita esse método
porque ele levaria a repetição da queixa. Para ela, esses dados podem ser
obtidos na análise do material da sala de aula, das provas e em entrevistas com
a equipe escolar, funcionando como complemento da avaliação pedagógica do
diagnóstico. A análise do material escolar implica verificar a metodologia
utilizada em sala de aula, ou seja, a qualidade didática.
Testes formais de leitura e escrita
devem ser feitos quando o terapeuta levantar a hipótese de uma dislexia grave
ou outras questões que exijam aprofundamento maior.
Os itens
importantes de verificação na avaliação pedagógica são a alfabetização,
leitura, escrita e matemática.
De acordo com a Weiss (p. 103)
Os
testes e provas são selecionados de acordo com a necessidade surgida em função
de hipóteses levantadas nas sessões familiares (na EFES), nas atividades
lúdicas etc, quando alguns aspectos não ficam claros e exigem um aprofundamento
por outros caminhos, em pouco tempo.
4.1. Diagnóstico operatório
As provas operatórias têm por objetivo
determinar o grau de aquisição de algumas noções-chave do desenvolvimento
cognitivo, detectando o nível de pensamento alcançado pela criança, ou seja, o
nível de estrutura cognoscitiva com que opera.
Material
Para crianças menores de 6 anos, uma caixa contendo
objetos que a leve a classificar e a seriar:
·
panelinhas,
pratos, copos, xícaras, talheres;
·
mobiliário de
casa de boneca;
·
frutas e
legumes; flores;
·
animais de
diferentes espécies;
·
bonequinhos de
diferentes tipos;
·
carrinhos;
·
ferramentas e
outros instrumentos em miniatura;
·
bloquinhos de
madeira ou plástico polivalentes;
·
pedaços de
tecido de diferentes tessituras e estampagens;
·
canudinhos de
refresco de diferentes tamanhos e cores;
·
outros.
Deverá propor uma arrumação dos objetos.
Registrará, quais os objetos escolhidos, qual o critério utilizado (mais
objetivo, de uso social comum, ou mais subjetivo), o que percebeu no objeto
para estabelecer o critério (cor, utilidade, tamanho etc), quantos objetos é
capaz de grupar em cada critério, quais abandona, mas que seriam grupáveis no
critério estabelecido. Em seguida, poderá, então, propor novas arrumações que
lhe permitam observar aspectos espaciais, lógico-matemáticos e conservações.
Outra caixa poderia ser organizada
visando a exame do escolar, contendo material selecionado para as clássicas
provas piagetianas: fichas de diferentes formas, cores e tamanhos; bastonetes
ou palitos; duas espécies de flores e
frutas; copinhos plásticos transparentes de diferentes alturas e diâmetros;
massa plástica de duas cores diferentes; fios de lã ou correntinhas; balança,
casinhas de madeira, régua, lápis, tabuleiro de papelão.
Faz-se um interrogatório para saber o
que o paciente pensa em relação às próprias manipulações ou observa na execução
do terapeuta. É importante que se faça o registro de todo procedimento.
A ordem apresentada na maioria dos
trabalhos sobre o assunto é a seguinte:
·
Conservação: pequenos conjuntos discretos (6/7 anos);
quantidade de líquido e matéria (6/7 anos); comprimento (8/9 anos); superfície
(8/9 anos); peso (8/9 anos); volume (10/12 anos).
·
Classificação: dicotomia ou mudança de critério (6/7 anos);
inclusão (6/7 anos);
·
intersecção (6/7
anos).
·
Seriação: 6/7
anos.
·
Provas do
pensamento formal: duplas e seqüências (a partir dos 12 anos)
·
Provas
espaciais: construção horizontal, vertical e coordenação do espaço
bidimensional (8/9 anos)
Não se deve aplicar várias provas de conservação
em uma mesma sessão, a fim de evitar a contaminação da forma de resposta.
Considerando-se que o objetivo básico
das provas é avaliar o grau de construção operatória, podemos dividir as
respostas em três níveis:
·
Nível 1: Ausência
total da noção, isto é, não atingiu o nível operatório nesse domínio.
·
Nível 2 ou
Intermediário: As respostas ou condutas expressam vacilação e instabilidade ou
são incompletas. Por exemplo: dão uma primeira resposta conservante e no
momento seguinte outra não conservante, ou com o argumento oposto ao que falou
em primeiro lugar.
·
Nível 3: As
respostas demonstram a aquisição da noção, sem vacilação.
4.2. Teste psicométricos
·
Inteligência
(CIA, WISC, Raven): facilidade de aplicação e avaliação, possibilidade de
análise operatória, análise qualitativa, uso parcial de provas ou subtestes,
realização de inquérito após as respostas e possibilidade de boa observação do
processo de realização.
Os testes de inteligência, isoladamente,
não fazem a distinção entre oligofrênicos e oligotímicos.
Para Weiss o uso de testes não tem por
objetivo definir QI, mas verificar se o paciente está usando a inteligência a
seu favor ou não.
·
Bender: usado
sempre que surgem dúvidas sobre questões psicomotoras e espaciais não
elucidadas pelos demais instrumentos.
4.3. Técnicas projetivas
São técnicas que trabalham com situações
relativamente pouco estruturadas, e utiliza-se estímulos com grande amplitude e
até mesmo ambíguos. Elas se baseiam no princípio que a maneira em que sujeito
percebe, interpreta e estrutura o material ou situação, reflete os aspectos
fundamentais do seu psiquismo.
·
Técnica de relatos:
Testes CAT e TAT.
·
Grafismo: desenho
livre, desenho dirigido, desenho seguido de história sobre o desenho, Teste
HTP.
A boa análise do grafismo fornece dados
da área cognitiva do sujeito, assim como do processo simbólico normal ou com
desvios patológicos, dando a compreensão global do paciente. Podemos analisar
se que a criança já possui noções de dentro e do fora, parte e todo, horizontal
e vertical, simetria, profundidade, perspectiva etc.
4.3.1. Provas
projetivas psicopedagógicas
São provas relacionadas situações
escolares, à família, à vida em geral, mas sempre buscando o viés da
aprendizagem. O que diferencia das demais propostas é o "olhar
psicopedagógico" do terapeuta.
Alguns pontos devem ser observados:
·
No desenho:
localização do paciente, outros personagens, objetos; características lógicas e
temporais da sequencia de cenas; idade, sexo, nomes, características de
personagens, se possível comparar com o próprio, colegas de escola, amigos,
familiares; adequação ao pedido feito pelo terapeuta.
·
No relato oral:
observar a sequencia têmporo-espacial, contexto espacial em que ocorrem as
cenas; temas escolhidos; coerência entre as cenas e os relatos orais e os
títulos escolhidos.
·
Durante a
execução: indecisões para começar, continuar; troca de tema; apagar,
desmanchar, refazer; posturas e movimentos corporais, motricidade, posição e domínio
do lápis.
Propostas mais usadas:
·
Dupla educativa:
entregar uma folha de papel branca tamanho ofício e um lápis, pedir para
desenhar uma pessoa que ensina e uma que aprende, indicar quem são as pessoas,
as idades, relatar o que aconteceu ou organizar uma história (oral ou por
escrito), dar um título. Pode ampliar os comentários.
·
Eu e meus
companheiros: desenhar você e seus colegas de turma; depois de feito, pedir
para indicar os nomes e as idades, pedir comentários sobre a situação
apresentada, sobre o que ocorre na sala de aula
ou o que gostaria que ocorresse.
·
Planta da sala
de aula ou escola: indicando os lugares em que sentam você e seus colegas,
lugares que gosta de ficar.
·
Desenho em episódios:
desenhar quatro momentos diferentes do seu dia desde o momento em que acorda
até a hora de dormir. Deve ser um dia sem aula, domingo, feriado ou dia de
férias. Dobrar uma folha, tamanho ofício, em quatro partes, ou trabalhar com
quatro meias folhas. Depois do desenho, pedir que fale sobre o que está
acontecendo em cada quadro.
·
Família
educativa: pedir que o paciente desenhe a sua família fazendo o que cada um
sabe fazer. Sugerir que dê a idade das pessoas, os nomes, o que cada um está
fazendo, se costuma ensinar ou não, como o faz. O que aprendeu ou gostaria de
aprender com essa pessoa. Pode contar uma história, dar um título.
5. Síntese
diagnostica e Prognóstico
Realizado todas as etapas do diagnóstico
psicopedagógico, o terapeuta já deve ter formado uma visão global do paciente e
sua contextualização na família, na escola e no meio social em que vive.
O laudo ou informe tem como finalidade
resumir as conclusões a que se chegou na busca de respostas às perguntas
iniciais que motivaram o diagnóstico.
Roteiro proposto por Weiss (p. 146):
I.
Dados pessoais
II.
Motivo da
avaliação - encaminhamento
III.
Período da
avaliação e número de sessões
IV.
Instrumentos
usados
V.
Análise dos
resultados nas diferentes áreas ou domínios (pedagógica, cognitiva,
afetivo-social, corporal)
VI.
Síntese dos
resultados - hipótese diagnostica
VII.
Prognóstico
VIII.
Recomendações e
indicações
IX.
Observações:
acréscimo de dados conforme casos específicos.
6. Devolução e
encaminhamento
A devolução consiste na comunicação
verbal feita ao final de toda a avaliação, em que o terapeuta relata aos pais e
ao paciente os resultados obtidos ao longo do diagnóstico. É uma análise da
problemática, seguida de sínteses integradoras. O terapeuta não deve apenas apresentar
conclusões, mas proporcionar um momento para que os pais assumam o problema em
todas as suas dimensões, o que significa compreender os aspectos inconscientes
ou latentes da questão.
Para crianças pequenas é importante
fazer uma devolução que esteja a seu nível de compreensão. “A dificuldade da
devolução não está apenas num relato organizado resultante do processo
diagnóstico, mas principalmente na grande mobilização emocional que deflagra
nos pais, o que já vem acontecendo desde a anamnese.” (p. 141).
Diferentes
formas de fazer a devolução:
·
No consultório:
Inicialmente só o paciente e depois os pais, inicialmente só o paciente e
depois o paciente e os pais; desde o início com o paciente e seus pais.
·
Na escola: com alguém
da equipe escolar, paciente e alguém da equipe escolar, paciente, pais e alguém
da equipe escolar, pais e alguém da equipe escolar.
A escolha é feita a partir das relações
que a autora percebe de aceitação ou negação, por parte dos pais, e das
formulações feitas pela escola.
A autora prefere fazer a devolução para
os pais juntos, evitando a ideia de que problemas escolares são com mãe e o
pagamento das sessões com o pai, ficando este sem engajamento afetivo com a
situação. No caso de pais separados, quando não aceitam a hipótese de sessão
conjunta, ela faz duas sessões e deixa a critério do paciente comparecer a
ambas ou a apenas a uma, junto com quem preferir.
“Finalmente, é preciso que a devolução
se encerre clarificando o Modelo de Aprendizagem do paciente e de sua família,
suas facetas saudáveis e suas dificuldades, bem como as possibilidades de
mudança na busca do prazer e eficiência no aprender.” (p. 142).
No final da devolução, quando surge a necessidade de
um atendimento, faz se os encaminhamentos.
Gostaria de agradecer a sua iniciativa em compartilhar resumidamente tão importantes aspectos da visão da autora.
ResponderExcluirMe ajudou a compreender um pouco mais essa desafiadora questão do aprendizado de minha filha.
Fico feliz em ter ajudado, abraço
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