15 de ago. de 2015

Abordagem Gestáltica #1: Psicologia da Gestalt


Gestalt é uma palavra alemã para a qual não há uma tradução equivalente em português e se refere a uma entidade concreta, individual e característica, que existe como algo destacado e que tem uma forma ou configuração como um de seus atributos*. Segundo a teoria, o todo é sempre maior que a soma das partes.

“A Psicologia da Gestalt foi iniciada por Max Wertheimer, juntamente com Wolfgang Kohler e Kurt Koffka e se dedicou ao estudo da percepção, da aprendizagem e solução de problemas. Contemporaneamente, Kurt Lewin, com sua Teoria do Campo, e Kurt Goldstein, com sua Teoria Holística, perfizeram o quadro científico do qual Frederick Perls se utilizou para ampliar a Psicologia da Gestalt, criando a Gestalt-terapia.” (RIBEIRO, 1985, p. 65).

Ribeiro (1985:65) vai destacar a importância da percepção para o ser humano, e a importância de manter o campo perceptual bem estruturado,

"A Psicologia da Gestalt vê o problema da percepção, da aprendizagem e solução de problemas como algo determinado pela realidade do campo visto como um todo. Quando existe problema em alguma destas três modalidades é que falta algo à verdadeira solução da situação. Torna-se, então, necessária uma reestruturação do campo perceptual." 

Wertheimer é quem inicialmente propõe os princípios de organização da percepção, porém é importante ressaltarmos que esses princípios, no contexto em que foram formulados, se referiam à percepção visual. “Nós, aqui, queremos fazer uma transposição: passar estas leis que controlam a estruturação da visão física para os modos como as pessoas percebem a realidade que as circunda, em termos de comportamento.” (RIBEIRO, 1985, p. 67).

Os princípios de organização da percepção são:

Proximidade: Figuras muito próximas entre si tendem a ser vistas como uma única figura ou objeto.
Similaridade: Partes semelhantes entre si tendem a ser vistas juntas como se formassem um grupo.
Continuidade: Quando os objetos estão dispostos em uma sequencia lógica para o observador, ele tende a associar esses pontos e assim conseguir formar uma imagem conhecida pelo cérebro.
Complementação, Preenchimento: nosso cérebro tende a completar figuras que possuam certo sentido em nossa memória, porém estão aparentemente incompletos visualmente.
Pregnância, Simplicidade: figuras mais simples são mais facilmente compreendidas, figuras complexas tendem a levar mais tempo para serem assimiladas.
Unidade: Um elemento se encerra nele mesmo, ou configurado por um conjunto de elementos que são percebidos por as suas relações formais, dimensionais, cromáticas ou outros atributos e são entendidos como uma unidade.
Figura/Fundo: Trata-se da capacidade de separar ou destacar unidades dentro de um todo compositivo e em função de contrastes de diferente ordem (dimensão, posição, pontos, linhas, volumes, cores, sombras, texturas). 

Todos estes princípios nos levam a concluir que o indivíduo “não percebe coisas isoladas e sem relação, mas as organiza no processo perceptivo como um todo significativo.” (PERLS, 2011, p.18). Perls, continua com um exemplo:

“Um homem entrando em um recinto cheio de gente, por exemplo, não percebe apenas gotas de cor e movimento, rostos e corpos. Percebe o local como uma unidade, na qual um elemento selecionado entre os muitos presentes, sobressai, enquanto os outros ficam em segundo plano. [...] Apenas quando há completa falta de interesse, a percepção é atomizada e o lugar é visto como uma confusão de objetos sem relação entre si.”

Outro conceito da Psicologia da Gestalt que foi transposto para a Gestalt-terapia e outras abordagens existenciais é do Aqui-e-agora. Na Psicologia da Gestalt, a importância da influencia de experiências passadas é diminuída, pois a experiência passada deve ter modificado a condição presente do organismo, antes que possa exercer qualquer efeito**. Segundo Ribeiro (1985:79),

"Em termos de Psicologia da Gestalt, estar no aqui e agora significa que este aqui e agora contém e explica a minha relação com a realidade como um todo, ou seja, o que eu vejo, o que eu percebo agora pode ser explicado pelo agora, sem necessidade de recorrer a experiências passadas de percepção."

Referências

* Lück, H. E. Primórdios da Psicologia da Forma. In: Revista Scientific American. Disponível em: . Acesso em: 15 ago. 2015.

** Marx, M. & Hillix, A. W., "Psicologia da Gestalt. Variedades da Teoria de Campo". Em: Sistemas e Teorias em Psicologia, Ed. Cultrix, São Paulo, 1978.

PERLS, F. A abordagem gestáltica e a testemunha ocular da terapia. Rio de Janeiro: LTC, 2011.

RIBEIRO, Jorge Ponciano. Gestalt-terapia: refazendo um caminho. Summus Editorial, 1985.






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