Introdução
O Hinário Evangélico foi produzido pela extinta Confederação Evangélica do Brasil, através de sua Comissão do Hinário. Teve como base o hinário Salmos e Hinos e sua primeira versão foi publicada em 1945 com 235 hinos (BRAGA, 1961). Atualmente o Hinário Evangélico conta com 500 hinos. A Igreja Metodista foi a única igreja que adotou oficialmente esse hinário. Tradicionalmente a Igreja Presbiteriana Unida do Brasil também o utiliza, embora seu uso não é institucionalizado por nenhum de seus documentos oficiais, a saber: Estatuto, Princípios de Fé e Ordem (PFO) e Regulamento Geral (RGIPU). O objetivo deste estudo é realizar um apanhado das origens do Hinário Evangélico e relacionar essas origens ao seu uso pela IPU.
1. Salmos e Hinos: a base dos hinários brasileiros
Para falarmos da hinódia evangélica brasileira, precisamos falar do casal Robert e Sarah Kalley, fundadores da primeira igreja evangélica em língua portuguesa no Brasil em 1855 na cidade do Rio de Janeiro: a Igreja Evangélica Fluminense. Esse casal organizou em 1861 o hinário Salmos e Hinos, primeira coletânea de hinos evangélicos em língua portuguesa organizada no Brasil. A masestrina Henriqueta Braga (1961, p. 125), nos diz que:
O casal Kalley [...] possuíam fina educação aliada a sólida cultura e a notáveis dons artísticos. Ambos escreveram hinos originais e traduziram inspirados cânticos (dos cento e oitenta e dois números que hoje se encontram em Salmos e Hinos com a inicial K, cento e sessenta e nove foram produzidos por D. Sara e, treze, pelo Dr. Kalley).
De acordo com Luciana Barbosa (2015), Salmos e Hinos serviu diversas denominações por décadas, dando origem a uma espécie de "teologia comum" a elas, mesmo estas denominações tendo diferentes modos de governo eclesiástico e posições teológicas conflitantes, como predestinação x livre arbítrio, ceia memorialista x presença real de Cristo na ceia, etc. Podemos associar esta diversidade teológica em Salmos e Hinos à própria bagagem teológica de Robert e Sarah Kalley que, como afirma Alano (2013, p. 26) "era uma mescla de “metodismo wesleyano” com “puritanismo escocês”, sendo praticantes de uma teologia pautada na doutrina arminiana com resquícios do puritanismo calvinista.”
O gráfico abaixo apresenta comparativo entre a quantidade de hinos do Salmos e Hinos presentes nos hinários: Cantor Cristão (CC), Harpa Cristã Ampliada (HCA), Hinário Adventista (HA), Hinário Evangélico (HE), Hinário para o Culto Cristão (HCC), Hinário das Igrejas Evangélicas Reformadas do Brasil (IERB).
Fonte: SILVA JÚNIOR, 2017. (Clique na imagem para ampliar) |
Atualmente o Salmos e Hinos em sua versão mais atual conta com 650 hinos.
2. CEB e o Hinário Evangélico
No início do Séc. XX, o protestantismo brasileiro se deparou com a necessidade de afirmar as suas crenças, lutar pela preservação de direitos e exercer um testemunho profético junto à sociedade. Visando alcançar esses objetivos, nos anos de 1920, surgiu a Comissão Brasileira de Cooperação, liderada pelo Rev. Erasmo Braga (MATOS, 2011).
Com a expansão de diversos ramos do protestantismo nacional tornou-se indispensável organizar uma entidade mais ampla que representasse os evangélicos. Foi assim que surgiu a Confederação Evangélica do Brasil (CEB), resultado da união da Comissão Brasileira de Cooperação, do Conselho Evangélico de Educação Religiosa e da Federação das Igrejas Evangélicas do Brasil (BRAGA, 1961). Foram membros fundadores da CEB as igrejas Presbiteriana do Brasil, Presbiteriana Independente, Congregacional, Metodista, Episcopal, Cristã do Brasil, além de nove organizações missionárias e duas sociedades bíblicas (SANTANA FILHO, 2008). Esta entidade era composta por uma Diretoria, dois Conselhos, três Departamentos e várias comissões, entre elas a Comissão do Hinário.
Com a expansão de diversos ramos do protestantismo nacional tornou-se indispensável organizar uma entidade mais ampla que representasse os evangélicos. Foi assim que surgiu a Confederação Evangélica do Brasil (CEB), resultado da união da Comissão Brasileira de Cooperação, do Conselho Evangélico de Educação Religiosa e da Federação das Igrejas Evangélicas do Brasil (BRAGA, 1961). Foram membros fundadores da CEB as igrejas Presbiteriana do Brasil, Presbiteriana Independente, Congregacional, Metodista, Episcopal, Cristã do Brasil, além de nove organizações missionárias e duas sociedades bíblicas (SANTANA FILHO, 2008). Esta entidade era composta por uma Diretoria, dois Conselhos, três Departamentos e várias comissões, entre elas a Comissão do Hinário.
A hinologia evangélica brasileira, naquela época, era composta de hinos na maior parte traduzidos de outras línguas e necessitava de um trabalho de seleção e revisão. Segundo Braga (1961),
[...] o texto dos hinos apresenta imperfeições devidas não só ao fato de serem na maior parte traduzidos de outras línguas (o que tolhe a liberdade do autor, obrigando-o a enquadrar sua produção em melodias pré-existentes, ao contrário da boa técnica, que exige seja composta a música sôbre o texto a ser cantado) , mas, também, terem sido estas traduções realizadas por estrangeiros que, embora cultos e estudiosos da língua, não lhe podiam penetrar a essência e manejá-la com a propriedade com que o faria um poeta nacional. Nesta oportunidade cumpre ressaltar serem os hinos de D. Sara Kalley os melhores dentre tôda a produção de autores alienígenas, conforme reconhecido pela Comissão de Hinologia da Confederação Evangélica do Brasil. (p. 277).
De acordo com a autora citada, uma primeira proposta de revisão dos hinos evangélicos em português foi apresentada pela Sub-Comissão de Publicações da antiga Comissão Brasileira de Cooperação, em dezembro de 1933. Ao ser organizada no ano seguinte, a CEB recebeu o estudo daquela entidade e deu prosseguimento ao trabalho.
Rev. Erasmo Braga (1877-1932) |
Em conversa recente com o Rev. Cláudio da Chaga Soares, pastor da IPU, este afirmou que “Nos idos de 1930, Erasmo Braga e outras lideranças evangélicas no Brasil sonharam com a confecção de um hinário que expressasse a diversidade teológica dessas igrejas e promovesse uma linguagem comum entre eles”, afirmação que aponta para o ecumenismo como possível motivação para a revisão dos hinos brasileiros.
O objetivo da Comissão do Hinário foi principalmente literário, melhorar a poética e a gramática das letras, porém destacam-se ainda a redução do número de estrofes da maioria dos hinos tradicionais e inclusão de um índice pela natureza dos seus assuntos e de 57 antífonas para leituras bíblicas responsivas. A edição atual com 500 hinos teve sua primeira publicação no começo da década de 60. De Salmos e Hinos, direta ou indiretamente aproveitados, apresenta o Hinário Evangélico cerca de 389 hinos, sendo 119 de autoria de Sarah Kalley (BRAGA, 1961). Outro autor, Silva Júnior (2017), nos afirma que a correspondência de letra e música entre Hinário Evangélico e Salmos e Hinos é de 211 hinos.
3. A IPU como herdeira da CEB
De acordo com Matos (2011, p. 14),
Nos anos 50 e início da década de 60, a CEB criou a Comissão de Igreja e Sociedade (1955), depois Setor de Responsabilidade Social da Igreja. Sua quarta reunião, conhecida como Conferência do Nordeste, realizada em Recife em 1962, teve como tema “Cristo e o Processo Revolucionário Brasileiro”. Seus líderes foram Carlos Cunha, Almir dos Santos e Waldo César, sendo preletores Sebastião G. Moreira, Joaquim Beato, João Dias de Araújo e o bispo Edmundo K. Sherill. [Algumas dessas lideranças participaram da fundação da IPU anos depois]
Waldo Cesar, secretário executivo do Setor de Responsabilidade Social da Igreja da extinta CEB, afirmou que "a CEB produziu o Hinário Evangélico e, durante anos, publicou revistas para escolas dominicais, projeto que as denominações acabaram rejeitando por motivos doutrinários” (ULTIMATO, 2007).
A CEB foi desativada em 1966 devido a lutas internas e dificuldade para uma maior abertura ao ecumenismo. Com a adoção do Hinário Evangélico pela Igreja metodista, a imprensa metodista conseguiu junto a CEB o direito de impressão do hinário.
A Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU), como herdeira direta do legado da CEB por meio de seus grandes teólogos como João Dias de Araújo, Joaquim Beato e Carlos Cunha, utiliza o Hinário Evangélico em sua liturgia até os dias atuais.
A Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU), como herdeira direta do legado da CEB por meio de seus grandes teólogos como João Dias de Araújo, Joaquim Beato e Carlos Cunha, utiliza o Hinário Evangélico em sua liturgia até os dias atuais.
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REFERÊNCIAS
ALANO, Josely de Moraes Antonio. Diálogo entre Graça e Culpa: a tradição da hinologia da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil e intercâmbios teológicos-musicais. Protestantismo em Revista. São Leopoldo, v. 32, p. 25-31, set./dez. 2013.
Disponível em: http://periodicos.est.edu.br/index.php/nepp/article/view/1121. Acesso em: 07 jan. 2018.
BARBOSA, Luciana. Salmos e Hinos: O Pioneiro Esquecido. 7 de jan de 2015. Disponível em: http://blogelectus.blogspot.com.br/2015/01/salmos-e-hinos-o-pioneiro-esquecido.html. Acesso em: 07 jan. 2018.
BRAGA, Henriqueta. R.F. Música Sacra Evangélica no Brasil – contribuição à sua história. Rio de Janeiro: Kosmos, 1961.
CUNHA, Atenilde. A história do Hinário Presbiteriano. 1991. Disponível em: http://www.semeandovida.org/2011/08/historia-do-hinario-presbiteriano_26.html. Acesso em: 07 jan. 2018.
MATOS, Alderi Souza de. Breve história do protestantismo no Brasil. Vox Faifae: Revista de Teologia da Faculdade FAIFA, v. 3, n. 1, 2011.
SANTANA FILHO, Manoel Bernardino de. Confederação Evangélica do Brasil. In: BORTOLLETO FILHO, Fernando; DE SOUZA, José Carlos; KILPP, Nelson. Dicionário Brasileiro de Teologia. São Paulo: ASTE, 2008, p. 162-167.
SILVA JÚNIOR, Joaquim O. P. da. Comparativo do Salmos e Hinos com outros hinários. Disponível em: http://www.hinologia.org/download/Comparativo-do-Hinario-Salmos-e-Hinos-com-outros-hinarios.pdf. Acesso em: 28 dez. 2017.
ULTIMATO. Sociólogo relembra a abertura dos evangélicos para a realidade social brasileira nos anos 60. Março-Abril 2007. Disponível em: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/305/sociologo-relembra-a-abertura-dos-evangelicos-para-a-realidade-social-brasileira-nos-anos-60. Acesso em: 08 jan. 2018.
Disponível em: http://periodicos.est.edu.br/index.php/nepp/article/view/1121. Acesso em: 07 jan. 2018.
BARBOSA, Luciana. Salmos e Hinos: O Pioneiro Esquecido. 7 de jan de 2015. Disponível em: http://blogelectus.blogspot.com.br/2015/01/salmos-e-hinos-o-pioneiro-esquecido.html. Acesso em: 07 jan. 2018.
BRAGA, Henriqueta. R.F. Música Sacra Evangélica no Brasil – contribuição à sua história. Rio de Janeiro: Kosmos, 1961.
CUNHA, Atenilde. A história do Hinário Presbiteriano. 1991. Disponível em: http://www.semeandovida.org/2011/08/historia-do-hinario-presbiteriano_26.html. Acesso em: 07 jan. 2018.
MATOS, Alderi Souza de. Breve história do protestantismo no Brasil. Vox Faifae: Revista de Teologia da Faculdade FAIFA, v. 3, n. 1, 2011.
SANTANA FILHO, Manoel Bernardino de. Confederação Evangélica do Brasil. In: BORTOLLETO FILHO, Fernando; DE SOUZA, José Carlos; KILPP, Nelson. Dicionário Brasileiro de Teologia. São Paulo: ASTE, 2008, p. 162-167.
SILVA JÚNIOR, Joaquim O. P. da. Comparativo do Salmos e Hinos com outros hinários. Disponível em: http://www.hinologia.org/download/Comparativo-do-Hinario-Salmos-e-Hinos-com-outros-hinarios.pdf. Acesso em: 28 dez. 2017.
ULTIMATO. Sociólogo relembra a abertura dos evangélicos para a realidade social brasileira nos anos 60. Março-Abril 2007. Disponível em: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/305/sociologo-relembra-a-abertura-dos-evangelicos-para-a-realidade-social-brasileira-nos-anos-60. Acesso em: 08 jan. 2018.
Sugiro como subsídio o livro de minha autoria, MÚSICA E TEOLOGIA, Ed. Fonte Editorial, 2012.
ResponderExcluirValeu meu querido Rev. Daniel do Amaral. Ótima referência!
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